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Mas, afinal quais seriam os órgãos utilizados pelos médiuns para captar os desejos e opiniões dos espíritos? Essa pergunta não é respondida de uma forma direta em nenhum dos livros racionalistas cristãos. 10
Nas várias obras racionalistas cristãs, ao
se falar de mediunidade, a maior preocupação é
tanto em descrever os diferentes tipos desse fenômeno como, também, em chamar a
atenção ao perigo que ele pode representar para aqueles que exercem a mediunidade
fora das correntes racionalistas. Como esses livros são lidos por um grupo heterogêneo
de pessoas, o assunto é descrito sem muitos detalhes, para que assim ele possa
ser entendido por todos, inclusive por aqueles menos intelectualizados.
Procurar uma
possível resposta à essa pergunta é o tema que queremos desdobrar aqui,
usando-se para isso fatos científicos já descritos na literatura internacional.
A mediunidade intuitiva está intimamente
ligada à estrutura do embrionário órgão
telepático, que é um reflexo da sensibilidade psíquica cujo desenvolvimento se irá,
a seu tempo, denunciando. Consequentemente, a mediunidade intuitiva, a de incorporação
e as funções rudimentares do incipiente órgão telepático perfazem, em ações
coordenadas e complementares, uma soma de três predicados espirituais cujo desenvolvimento,
quando sob rigoroso controle, oferece os mais perfeitos resultados na captação
de pensamentos de espíritos desencarnados ou não. (A Mediunidade, do livro "Racionalismo Cristão", 42a. edição, pp. 220-221, 2003.)
De acordo com
o parágrafo acima, existe uma correlação entre a mediunidade, tanto a intuitiva
como a de incorporação, com as funções rudimentares de um órgão telepático que
é ainda incipiente.
Mas, afinal que "órgão
telepático" será esse e onde ele estaria localizado?
Como a grande
sensibilidade da faculdade mediúnica tem íntima ligação com o sistema nervoso
[1], esse órgão telepático está, muito provavelmente, localizado no cérebro ou
seja, no sistema nervoso central.
Quando em 1729
o astrônomo De Mairan (1675-1774) afirmou que os seres vivos tinham ciclos
definidos pelo ambiente, a Academia de Ciências de Paris riu sarcasticamente de
suas idéias. Atualmente, sabe-se que a grande maioria dos fenômenos biológicos
se repetem obedecendo uma certa periodicidade ou seja, eles são produzidos
ciclicamente. O mais evidente desses ciclos é o de "atividade e
repouso" (dia/noite) que é sincronizado pela rotação da Terra. Eles são
chamados ciclos circadianos – do latim, "em torno de um dia" pois, se
repetem com intervalo de 20 a 28 horas. É sabido, também, que a maioria dos
seres vivos, inclusive o homem, possui mecanismos internos que marcam o tempo,
os chamados relógios biológicos. Relógios são mecanismos geradores de ciclos e
seu produto final, aquele que podemos observar, são os ritmos biológicos [2].
Esse assunto é
estudado pela Cronobiologia, um ramo da neurociência que foi criado e
reconhecido oficialmente somente em 1956 [3]. Hoje em dia, a neurociência tem
desenvolvido muitos métodos para estudar os ritmos e relógios biológicos procurando
investigar como, quando e porquê nosso cérebro é modulado por ciclos naturais
[4, 5].
O sistema
circadiano é formado por um conjunto de estruturas que se encontram profundamente
localizadas no interior do cérebro. Nos mamíferos, os relógios controladores
desse sistema são os núcleos supra-quiasmáticos localizados no hipotálamo bem
atrás do cruzamento (ou quiasma) dos nervos ópticos e a glândula pineal. [11]
A pineal, uma
pequena cunha avermelhada do tamanho de um grão de ervilha enterrada
profundamente no centro do cérebro, até 1950 era considerada pelos cientistas somente
como um órgão residual e sem funções importantes.
René Descartes
(1596-1650), filósofo, místico e fundador da matemática moderna, afirmava ser a
pineal a "sede da alma racional" [6]. Existe uma farta literatura sobre
a glândula pineal editada pelo kardecismo e por várias seitas esotéricas. Neste
artigo, não pretendemos considerar esse tipo de literatura, embora nela sejam
descritos alguns fatos curiosos, mas de procedência duvidosa.
O estudo
científico sistemático da pineal teve seu início somente no final dos anos 50.
Em 1958, Aaron Lerner e seu grupo extraíram da pineal um hormônio, fato esse
que a caracterizava como uma glândula endócrina. Lerner chamou esse hormônio de
melatonina. Mas, a importância da glândula pineal cresceu muito a partir de
1959 quando Julius Axelrod, o grande cientista e ganhador do Prêmio Nobel,
começou a estudar e a esclarecer algumas das funções dessa glândula [7, 8, 9].
A pineal trabalha em estreita sintonia com
o hipotálamo controlando vários fenômenos
fisiológicos como sede, fome, sono, impulso sexual, os biorritmos e, até mesmo,
o relógio biológico do envelhecimento [10].
Inicialmente,
a pineal era um olho e seu nicho era um orifício escavado no osso parietal
direito. Ela não estava sozinha – seu companheiro fotorreceptor existe, ainda hoje,
debaixo da pele que cobre o dorso do crânio de alguns animais. Ele é o órgão parapineal,
ou terceiro olho dos anfíbios e répteis contemporâneos. Já a pineal se introduziu
profundamente no crânio e alojou-se no teto do terceiro ventrículo [11].
A pineal dos
mamíferos recebe através de um nervo que se origina na retina, informações
sobre as condições de luz ou escuridão que predominam em um dado ambiente.
Portanto, a pineal nos mamíferos também conserva sua função ancestral de fotorreceptora
capturando e processando energia luminosa.
Ao cair da
tarde, a pineal inicia a secreção de melatonina lançando-a na corrente sanguínea.
Nas 24 horas do dia, essa secreção atinge um máximo durante a fase de escuridão
e um mínimo no ápice de luz. Por isso, costuma-se dizer que a melatonina é o hormônio
da escuridão.
Além de ser um transdutor
foto-neuroendócrino, a pineal é capaz também de computar intervalos de tempo. Portanto, esta glândula é tanto um relógio como um calendário.
A origem
embrionária da pineal é muito semelhante à dos olhos laterais, pois, as duas
estruturas se desenvolvem a partir de uma evaginação diencefálica. Pode-se
dizer assim que, tanto por sua história evolutiva e oncogênica como por sua
estrutura e funções, a pineal parece ser o terceiro olho dos mamíferos [12].
O Racionalismo Cristão sempre enfatizou a
necessidade de o ser humano ser disciplinado no seu modo de viver. A própria Doutrina é regida por várias normas, onde os
horários devem ser obedecidos rigidamente.
Como a mediunidade intuitiva é comum a
todos os seres humanos, é muito provável que
as normas disciplinares preconizadas pelo Racionalismo Cristão tenham como
objetivo a melhor captação pelos discípulos da Doutrina das boas intuições enviadas
pelo Astral Superior, pois, disciplinando o seu modo de viver, a pineal dessas
12 criaturas ficaria mais sensível e sintonizada. Ou seja, ter disciplina nos
horários significaria entrar em sintonia com os órgãos do complexo pineal.
Sobre Glandula Pineal |
No caso dos médiuns, por serem dotados também de mediunidade incorporativa e, muitas vezes, até de vidência, essas recomendações são mais enfáticas ainda: "Para que possam cumprir adequadamente suas funções, os instrumentos mediúnicos do Racionalismo Cristão devem levar uma vida rigorosamente disciplinada, habituando-se a ter horas para tudo" [13].
A palavra
telepatia significa a transmissão ou comunicação extra-sensorial de pensamentos
e sensações, à distância, entre duas ou mais pessoas [14]. A comunicação entre
os espíritos e o médium é feita através do pensamento, portanto, por telepatia.
No ser humano, o desenvolvimento pleno da glândula pineal ainda não se
completou e deverá ocorrer no curso da evolução [15].
Estes fatos
justificariam, portanto, a frase "incipiente órgão telepático" que é
mencionada nos livros da Doutrina.
Nosso cérebro é um gerador de energia
elétrica. Ela é gerada nos
neurônios e caminha por uma tubulação especial – o axônio dos nervos. Os
pensamentos produzem vibrações magnéticas [16]. Portanto, é bem provável que os
pensamentos gerem no cérebro radiações eletromagnéticas. O sistema circadiano
responde à exposição de campos eletromagnéticos que afetam a produção de
melatonina (o hormônio da escuridão) pela pineal dos mamíferos [17], pois, ela
tem uma sensibilidade sui generis a radiações eletromagnéticas [18]. Os
Espíritos Superiores exercem maior ação sobre a Terra à noite [19]. As comunicações dadas pelos Espíritos Superiores
através dos médiuns no Racionalismo Cristão, ocorrem no período noturno e na
semi-obscuridade.
Todos estes
fatos descritos acima reforçam muito a hipótese de ser essa glândula (ou o
complexo de estruturas cerebrais da qual ela faz parte), o possível órgão(s) do
médium responsável pela captação de pensamentos dos espíritos.
O provável envolvimento da pineal em
mediunidade ainda é, no momento, somente uma hipótese. E, para que ela seja validada pela ciência
convencional, deverá ser provada experimentalmente através de metodologia
adequada. E isso certamente será providenciado, em tempo oportuno, pela
captação de intuições do Astral Superior por cientistas racionalistas cristãos.
Bibliografia
[1] A Mediunidade. In: Racionalismo Cristão, 42a. edição, 2003, pp. 217-224.
[2] Wright, K. (2002) Os tempos da nossa
Vida. Scientific American Brasil. 5: 70-77.
[3] Marques,
N. & Menna-Barreto, L. In: Cronobiologia: Princípios e Aplicações, pp.
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[4] Reichlin, S. (1983) Neuroendocrinology:
Pineal Gland and Circumventricular organs. In: Williams Textbook of
Endocrinology, pp. 492-553. 13 [5] Turner, C.D. (1971) Neuroendocrinology. In:
Turner General Endocrinology, pp. 328-413.
[6] Loklorst, G.J.C. & Kaitaro, K.K.
(2001) The originality of Descartes' theory about the pineal gland. Journal for
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[9] Axerold, J. (1974) Pineal Gland: A Neurochemical
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and melatonin in relation to aging: a summary of the theories and of the data. Experimental
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efeitos sobre o sistema imunológico. La Academia, 7: 35-43.
[12] Eakin, R.E. (1973) In: The third Eye.
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[15] Elden, C.A. (1989) Pineal: Still too
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[16] Luiz de Souza, As Irradiações. In: A
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(2003) Circularly polarised magnetic fields does not acutelly supress melatonin
secretion from cultured Wistar rat pineal glands. Bioeletromagnetics, 24:
118-124.
[18] Burk, D.H. Jr. (1990). The Basis of
Bioelectricmagnetism. Medical Acupuncture Journal, 2: 57-63.
[19] Cartas Doutrinárias. In: Espiritismo Racional e Científico Cristão em 1933,
pp. 100-101.
A captação do
pensamento dos espíritos pelos médiuns
Por Dra. Glaci
Ribeiro da Silva - Biografia
Fonte:
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