[...] Os planetas que giram em torno do Sol, são outros tantos mundos; portando, outras tantas escolas, para onde e por onde o espírito terá que passar na sua marcha evolutiva para a perfeição – o Grande Foco, sua fonte de origem. [...] (Pinheiro Guedes, em seu livro Ciência Espírita; 8ª ed., p. 181, 1992).

A Gata Borralheira do sistema imunológico – Por Dra. Glaci Ribeiro da Silva

O corpo carnal é uma admirável máquina concebida pela Inteligência Universal para proporcionar ao maquinista – o espírito – os elementos, os meios com os quais leva a efeito no planeta Terra um curso de aperfeiçoamento em múltiplas encarnações, indispensáveis à sua ascensão a ambiente de maior espiritualidade, num plano mais alto de evolução. (Racionalismo Cristão, 42ª ed., p. 97-98, 2003).

O Universo é uma grande oficina onde os espíritos – partículas individualizadas da Inteligência Universal – trabalham e estudam em busca da sua evolução. Uma das escolas existentes no universo se chama Terra.
Nela, os espíritos fazem o curso fundamental ou básico para sua evolução; ela aceita alunos da primeira até a décima sétima classe evolutiva e exige que os espíritos tenham um corpo carnal (ou corpo físico) para frequentá-la.

O responsável pelo planejamento dos corpos físicos usados na “Escola Terra” é a Inteligência Universal e, eles, são construídos com o material fornecido pela própria escola.

Quando um espírito recebe seu corpo físico ele é chamado de “ser encarnado” e o intervalo de tempo durante o qual esse corpo físico é usado por ele denomina-se “encarnação”. Quanto maior for a duração desse corpo físico durante cada encarnação de um espírito, mais tempo disponível ele terá para fazer a sua evolução; para facilitar isso e defende-lo do ambiente hostil da “Escola Terra”, ele foi equipado com um conjunto de células especializadas que formam o chamado sistema imunológico ou imune.

Para que todos possam entender quem é a personagem que chamamos de Gata Borralheira do sistema imune, será preciso explicar algumas noções preliminares sobre esse sistema. Essa não será uma tarefa fácil pois esse sistema é muito sofisticado mas faremos o possível para procurar explicá-lo de um modo simples e bem esquemático. Vamos lá!

A função básica do sistema imune é combater micro-organismos invasores mas ele também tem outras funções como, por exemplo, remover células mortas para limpar o organismo, eliminar células malformadas que diariamente o organismo produz evitando assim a formação de tumores, etc.

O sistema imunológico é organizado como um verdadeiro exército sendo os seus soldados as células pertencentes a esse sistema; elas são altamente especializadas, ou seja, cada tipo de célula age de acordo com sua função: receber e enviar mensagens de ataque ou de inibição, imobilizar o “inimigo” e apresentá-lo ao exército imune, atacar e matar diretamente o “inimigo”, produzir substâncias que neutralizem os “inimigos”, entre várias outras.

As células do sistema imune são os leucócitos, os macrófagos e os mastócitos.

Os leucócitos são constituídos por um conjunto de células que se originam na medula óssea (tecido conjuntivo que preenche os ossos; conhecido popularmente como “tutano do osso”) e fazem parte do sangue circulante; esse conjunto é formado por cinco tipos de células:

- neutrófilos
- linfócitos
- monócitos
- eosinófilos
- basófilos

Os macrófagos derivam dos monócitos – um dos tipos de leucócitos. Eles se
transformam em macrófagos quando saem dos vasos sanguíneos e migram para os tecidos.

Os macrófagos são cerca de dez vezes maiores que os monócitos; essas células são capazes de engolir e digerir diferentes materiais e partículas, ou seja, elas possuem atividade fagocitária; essa descrição justifica o seu nome: macro significa “grande” e fago, “comedor”. Existem dois tipos de macrófagos: os fixos e os livres.

Os macrófagos fixos alojam-se em alguns tecidos onde passam a residir; eles possuem em sua superfície externa dendritos – ramificações em forma de galhos e daí serem conhecidos como células dendríticas; elas recebem nomes diferentes de acordo como tecido onde estão localizadas: histiócitos (tecido conjuntivo e músculos), célula de Kupffer (fígado), microglia (cérebro), macrófagos alveolares (pulmão), células de Langherans (pele), etc. Embora residam nos tecidos, as células dendríticas migram para o local de uma infecção tão logo ela se instala.

Os macrófagos livres percorrem incessantemente todo o organismo a procura de coisas para devorar; seu apetite é insaciável – são realmente “grandes comedores” e, ao contrário dos neutrófilos, que morrem quando estão cheios com o material ingerido, os macrófagos regurgitam o material já digerido, para continuar comendo. Os macrófagos livres são os lixeiros do nosso organismo: devoram hemácias doentes, neutrófilos exaustos e pedaços de células mortas, células mal formadas, etc. Juntamente com os monócitos, os macrófagos livres e os fixos formam uma verdadeira rede – o sistema mononuclear fagocitário – que está sempre pronto para capturar todo material estranho que tenha escapado ileso de outras armadilhas.

Os linfócitos – um outro tipo de leucócito – são consideradas as células mais nobres do sistema imune. Eles são células pequenas e ao microscópio parecem todos iguais. No entanto, possuem em suas membranas receptores diferentes que podem ser identificados através de marcadores. Por isso, os linfócitos podem ser diferenciados em vários tipos e subtipos. Existem dois tipos básicos de linfócitos: T e B; eles recebem esses nomes por predominarem no timo (T, de thymus, em inglês) ou na medula óssea (B, de bone marrow, em inglês), locais esses onde fazem a sua maturação.

Os mastócitos não são leucócitos mas, sim, células do tecido conjuntivo; elas estão envolvidas no processo inflamatório e possuem um citoplasma rico em grânulos onde armazenam vários mediadores da inflamação, tais como histamina, heparina, fatores quimiotáxicos para atrair neutrófilos, etc.
No exercito do sistema imunológico existem duas grandes Divisões: a Inata e a Adaptativa.

A divisão inata é formada por soldados rasos e eles funcionam como sentinelas ou vigias desse exercito.

Existem dois locais onde essas sentinelas se encontram: nas barreiras naturais do corpo e onde a inflamação inespecífica se desenvolve.

As barreiras naturais do corpo são a primeira linha de combate da divisão inata e, caso suas sentinelas sejam vencidas pelo invasor, uma inflamação inespecífica – a segunda linha de combate – se instala no local da invasão.

Essas barreiras naturais estão estrategicamente presentes em todo local onde haja possibilidade do corpo ser invadido. O organismo possui várias dessas barreiras, tais como a queratina, lipídios e ácidos graxos na pele, a saliva na boca, o ácido clorídrico no estômago, o pH ácido na vagina, a cera do ouvido externo, o muco presente nas mucosas e no trato respiratório, os cílios do epitélio respiratório, a flora bacteriana normal existente na vagina e nos intestinos, etc.

A inflamação inespecífica é um processo muito útil na defesa do corpo e como tal deve ser sempre encarado. Seu objetivo final é impedir que a infecção avance, isolando os germens em um envoltório de fibrina, – uma proteína esbranquiçada e insolúvel.

O processo inflamatório se inicia quando os mastócitos do tecido conjuntivo liberam do seu citoplasma substâncias que dilatam as arteríolas da região e atraem também neutrófilos e macrófagos para a área afetada. A saída de líquido produz edema (inchaço), as arteríolas dilatadas levam à vermelhidão, ao aumento de temperatura local e à dor.

Todos os eventos inflamatórios são dotados de um significado: o aumento de temperatura no local inflamado dificulta a proliferação de micro-organismos e estimula a migração de neutrófilos e macrófagos que irão englobar e destruir os agentes invasores; algumas substâncias liberadas no local da inflamação alcançam o centro termorregulador localizado no cérebro (hipotálamo) elevando a temperatura corporal e produzindo a febre.

Apesar do mal-estar e do desconforto que a febre causa, ela também é um importante fator no combate às infecções pois além de ser desfavorável à sobrevivência dos micro-organismos invasores, também estimula muitos dos mecanismos de defesa do corpo.

Se a divisão inata for malsucedida na sua missão de conter patógenos, entram em cena as células da divisão adaptativa – os oficiais desse exército – para organizar um ataque sofisticado e direcionado contra o invasor, ou seja, essa divisão é específica. Essa resposta imunológica é justamente chamada de adaptativa porque, durante uma infecção, ela se ajusta ao micro-organismo responsável por aquela doença.

A divisão adaptativa foi até cerca de cinco anos atrás a atriz principal do show do sistema imunológico. Todos os holofotes a focalizavam; os livros e artigos sobre imunologia estão cheios de detalhes sobre as células B, com seus anticorpos que se prendiam aos antígenos – as proteínas específicas localizadas na superfície de um patógeno; e sobre as células T e seus receptores, capazes de reconhecer fragmentos das proteínas patogênicas.

A imunidade adaptativa também roubava a cena porque ela é capaz de criar uma “memória imunológica”. Depois da infecção as células B e T ficam por perto do local onde ela ocorreu preparando o corpo para repelir novos ataques. Essa capacidade de recordar infecções passadas permite que as vacinas nos protejam expondo o corpo a uma forma desativada do patógeno; o sistema imunológico, porém, reage como se essa exposição fosse um ataque verdadeiro, gerando células protetoras com memória imunológica.

A Gata Borralheira do sistema imunológico era, portanto, a divisão inata pois ela parecia muito monótona quando comparada à adaptativa. Os seus componentes, enzimas antibacterianas da saliva e os chamados “complementos” – proteínas do sangue que destroem bactérias – pareciam muito menos sofisticados que os anticorpos e as células T.

Ao rejeitarem a resposta imune inata por ser enfadonha e desinteressante, os imunologistas estavam, na verdade, tentando esconder um pequeno segredo: o Sistema imunológico adaptativo não trabalha na ausência de uma resposta inata. É o sistema immune inato que produz as proteínas sinalizadoras chamadas citocinas, que não somente induzem a inflamação inespecífica, mas também ativam as células B e T. Como se vê, a irmã charmosa precisa da ajuda de uma gata borralheira – sua parente singela e discreta, para poder mostrar o seu brilho...

As células dendríticas que descrevemos acima fazem parte da divisão inata do exército imunológico; elas são relativamente escassas: constituem apenas 0,2% dos glóbulos brancos do sangue e estão presentes em proporções ainda menores em tecidos como a pele. As células dendríticas foram identificadas em 1868 pelo anatomista alemão Paul Langerhans, que erradamente, pensou tratar-se de terminais nervosos da pele. Quase um século depois elas foram redescobertas no baço de ratos pelo cientista Ralph Steinman, da Rockefeller University que as reconheceu como parte do sistema imunológico. Foi também Steinman quem as denominou células dendríticas porém, essas mesmas células na pele continuam a ser chamadas de células de Langerhans.

Mais vinte anos se passaram até os cientistas conseguirem isolar e obter grandes quantidades de células dendríticas que possibilitassem seu estudo em laboratório.

Atualmente, existem vários grupos de pesquisa envolvidos no estudo dessas células e o interesse científico nelas está se tornando cada dia maior.

As células dendríticas ainda imaturas se instalam na pele, nas mucosas e em órgãos como o pulmão e o baço. Elas possuem uma enorme variedade de mecanismos para capturar micróbios que tentam invadir o corpo: usando as ventosas que possuem em suas membranas para prender os invasores e retirar deles quantidades microscópicas do fluido que os cerca; envolvendo vírus e bactérias em um tipo de saco conhecidos como vacúolos; produzindo um substância chamada interferon-alfa, que elimina certos vírus imediatamente etc.
Depois de devorar os invasores, as células imaturas os dividem em fragmentos – conhecidos como antígenos – para que eles possam ser apresentados e reconhecidos pelo resto do sistema imunológico. Para distribuir os antígenos em sua superfície as células usam moléculas em forma de “garfo” para prende-las entre os seus dentes. Essas moléculas são chamadas “complexo maior de histocompatibilidade” (MHC, em inglês).

Enquanto processam antígenos para fazer sua apresentação, elas viajam pelo sangue até o baço – um dos órgãos do sistema imunológico – ou, através de um fluido claro, a linfa, para os gânglios linfáticos. Chegando ao destino, elas completam a própria maturação e apresentam suas moléculas MHC carregadas de antígenos às células “T-auxiliares”, que, por nunca terem entrado em contato com antígenos, são chamadas em inglês de células “Tnaïve”, ou seja, ingênuas. As células dendríticas são as únicas capazes de instruir as células “T-ingênuas” a reconhecer o antígeno como algo estranho ou perigoso.

Depois de instruídas, as células T-auxiliares fazem com que as células B produzam anticorpos que se ligam ao antígeno e o desativam. As células dendríticas e as células auxiliares podem também ativar as células T-assassinas, que podem destruir bactérias ou células infectadas por vírus. Algumas das células T educadas pelas células dendríticas se transformam em células “de memória”, que permanecem no corpo por anos, ou até décadas, prontas para agir se o invasor voltar.

O exposto acima mostra de um modo esquemático e bem simplificado uma reação imunológica tal como é descrita atualmente com o papel das células dendríticas devidamente reconhecido e valorizado. E não será necessário forçarmos muito a imaginação para verificar como uma reação imunológica se assemelha à tática usada por policiais diante de malfeitores. A impressão que se tem é que essas células raciocinam e agem inteligentemente, justificando assim o nome de “cérebro do corpo”, – denominação que ultimamente vem sendo dada ao sistema imunológico.

Embora pareçam ter uma organização muito diferente, os sistemas imunológico e nervoso central são em vários aspectos muito parecidos. Assim, ambos possuem um projeto estrutural muito semelhante com elementos sensoriais para receber informações do ambiente e do corpo e, elementos motores, que executam a resposta apropriada.

Esses dois sistemas também se comunicam através de mediadores químicos. Por exemplo, os sinais elétricos que percorrem as vias nervosas se convertem em sinais químicos nas sinapses que separam os neurônios e essas substâncias químicas, podem agir como sinais para o sistema imunológico. Por outro lado, os mensageiros químicos que as células imunológicas produzem tanto são usados como comunicadores dentro do próprio sistema imunológico como, também ligam esse sistema com o cérebro e os nervos.

Uma das maiores descobertas da imunologia contemporânea é que os leucócitos produzem pequenas proteínas capazes de coordenar indiretamente as respostas do Sistema imunológico no combate aos patógenos. Assim, a proteína Interleucina 1 (IL-1) é produzida por monócitos. É esse o início da elegante cascata responsável pela resposta imunológica pois agindo sobre o linfócito, a IL-1 gera a IL-2 que é a responsável pela maturação dos linfócitos. Alguns desses linfócitos maduros – os plasmócitos – produzem anticorpos para combater as infecções enquanto outros – os citotóxicos matam diretamente o agente infeccioso.

Acreditava-se que a principal função das interleucinas fosse a comunicação entre (“inter”) as células brancas do sangue (“leucinas”). Mas elas também agem como sinais químicos entre as células imunes e outros tipos de células inclusive as cerebrais. Essa é a razão de se usar atualmente o termo “citocina” ao invés de interleucina para designer moléculas biológicas usadas por diferentes tipos de células para se comunicar. Uma citocina pode tanto estimular como inibir uma resposta permitindo com essa flexibilidade que o sistema imunológico escolha as ações mais apropriadas para estabilizar o ambiente local e manter a homeostasia.

Essa intima relação entre o cérebro e o sistema imunológico poderia ser facilmente explicada tendo como base a doutrina racionalista; assim, se imaginarmos ser o corpo físico um computador (portanto, uma máquina, conforme afirma o espiritualismo científico) e o seu usuário o espírito, o cérebro funcionaria como um teclado e, cada região dele, seria uma tecla que quando pressionada pelo espírito enviaria suas ordens para que seu computador as executasse.

Para fazer seu curso evolutivo na “Escola Terra”, o espírito depende do seu corpo físico e, por isso, ele tem uma linha direta e expressa com o exército (sistema imune) encarregado de o defender e cuidar de sua manutenção (homeostasia). E nesse exército, todas as divisões são igualmente importantes, mesmo aquela que até recentemente era considerada pelos cientistas uma simples Gata Borralheira...

Amorim, José. Energia programada – A mecânica do perispírito. 4. ed., Rio de Janeiro: Centro Redentor, 1996.

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A Gata Borralheira do sistema imunológico
Por Dra. Glaci Ribeiro da Silva

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