“Não é
petulância afirmar que o materialismo é um saber incompleto, um sistema
decrépito que seleciona, de propósito, tão-somente os fatos que julga poder
explicar por meio de combinações atômicas e moleculares, pela ação exclusiva de
forças mecânicas, pelas leis da físico-químicas.” (Alberto Seabra, em A alma
e o subconsciente, citado por Luiz de Mattos em Pela verdade: a ação do
espírito sobre a matéria).
Até bem
recentemente, falar ao público leigo sobre câncer era uma verdadeira
temeridade. Câncer era um tema de muito mau gosto e que deveria ficar restrito
aos médicos e estudantes de medicina; ele era um tabu social e vários
eufemismos eram usados para evitar até a própria palavra. A doença, considerada
um mal inescrutável, era cercada de estigmas; o pior deles, era aquele que a
igualava à morte certa.
Quando
se falava de alguém que estava com câncer, o tom da conversa mudava, fazia-se
um silêncio desconfortável, as pessoas desviavam o olhar – tudo isso indicando
a expectativa de morte. Os próprios médicos preferiam esconder esse terrível
diagnóstico dos seus pacientes e somente confidenciavam – muito solenemente – a
terrível verdade aos familiares dos mesmos. Todo esse panorama criou em torno
da doença verdadeiros mitos; mitos esses muito semelhantes aos que
anteriormente cercaram também a tuberculose. A tuberculose só foi
desmistificada quando a ciência médica conseguiu descobrir sua etiologia e,
consequentemente, teve recursos adequados para curá-la. E isso será certamente
o que acontecerá também com o câncer.
O
câncer é o resultado de mutações genéticas induzidas nas células por vários
fatores, tais como vírus, radiação, substâncias químicas, etc. As células
tumorais são frágeis e diferentes, tanto no seu aspecto como no comportamento
que essas células tinham antes da sua transformação. A diferença essencial
reside na maior capacidade de se multiplicar que a célula mutante possui em
relação à célula normal.
As
células normais possuem um mecanismo de comunicação que evita sua reprodução
excessiva e desordenada. Por ignorarem esse mecanismo, as células malignas se
tornam invasoras, bloqueando o bom funcionamento do seu órgão de origem e
exercendo pressão sobre os órgãos vizinhos, por ocupar gradativamente mais
espaço. Nas formas mais graves do câncer, essas células malignas separam-se da
massa original e são levadas pela corrente sanguínea para outras partes do
organismo onde passam a dar origem a novos tumores. Essa separação e o
transporte das células são denominados metástase (do grego, metástases, mudança
de lugar).
Desvendar
as raízes do câncer vem sendo há muito tempo a principal meta de vários
cientistas ao redor do mundo. E a cada dia vem aumentando mais o número dos
possíveis vilões causadores da doença – os chamados carcinógenos ou agentes
carcinogênicos. Esses vilões mantêm, de fato, uma forte ligação com o câncer,
porém não parecem ser a causa básica da doença, pois, embora uma grande parte
da população mundial esteja exposta a carcinógenos, somente uma pequena minoria
tem, como consequência disso, um câncer.
Ninguém
contesta que o câncer é, basicamente, uma doença do DNA; existem, porém, várias
teorias tentando explicá-lo. As informações geradas pelo “Projeto Genoma
Humano”, no ano 2000, contribuíram muito para a compreensão dos mecanismos de
desenvolvimento da doença. Soube-se, assim, que o câncer não é uma doença única
mas, sim, um conjunto delas, que têm características em comum e, provavelmente,
causas diferentes. Portanto, falar da doença no singular é hoje uma imprecisão,
pois, segundo a Organização Mundial da Saúde, já foram identificados e
classificados numerosos tipos dessa patologia.
Ao ser
assumida pela ciência a dicotomia cartesiana, que dividia a natureza em dois
domínios – o da mente e o da matéria –, os cientistas passaram a desenvolver
pesquisas e elaborar teorias sobre a mente (ou o espírito), nas chamadas
ciências humanas, e, sobre o corpo físico (ou matéria), nas ciências naturais,
domínio esse que inclui, entre outras áreas, a medicina.
Há
quase um século os efeitos dessa dicotomia foram analisados criticamente por
Luiz de Mattos em seu livro Pela
Verdade: a ação do espírito sobre a matéria. E já nessa época esse grande
Mestre espiritualista, que foi o codificador da Doutrina racionalista cristã,
procurava alertar os médicos e pesquisadores do erro que vinham cometendo ao
interpretar fatos e criar teorias esdrúxulas tomando como base unicamente o
corpo físico e deixando de lado a mente – a parte mais importante do ser
humano.
O preço
que pagamos por estar na época das grandes especializações é que, muitas vezes,
pessoas trabalhando sobre o mesmo problema, porém em áreas diferentes, trocam
poucas informações a respeito dele. Cada disciplina possui o seu jargão – sua
linguagem especializada –, os seus próprios valores e métodos de comunicação;
disso resulta o extravio de informações importantes, pois não existe um
intercâmbio eficiente das descobertas que são feitas.
Há mais
de 2000 anos a conexão entre o câncer e estados emocionais já havia sido
observada e descrita por vários médicos e investigadores. Uma das mais antigas
publicações sobre o tema é o De tumoribus (do latim, Sobre tumores), um
trabalho escrito por Galeno, o famoso médico grego.
Em 1863
Claude Bernard volta a enfocar o tema no seu clássico tratado Medicina
experimental, onde ele enfatiza que o ser humano deve ser considerado um todo
harmônico; e, mesmo sendo necessária uma análise específica de suas partes, as
relações entre todas elas devem ser sempre levadas em consideração.
Apesar
da aparente concordância vigente entre os especialistas do final do século 19 e
do início do século 20 a respeito da estreita ligação existente entre estados
emocionais e câncer, o interesse desvaneceu-se frente ao surgimento da
anestesia, do desenvolvimento de novos procedimentos cirúrgicos e da
radioterapia. O sucesso dessas terapias físicas fortaleceu bastante o ponto de
vista da maioria dos médicos: problemas físicos só podem ser resolvidos com
alguma forma de tratamento físico.
Por
outro lado, nessa época, os médicos começaram a encarar as tensões emocionais
como inevitáveis; e, segundo eles, mesmo que elas tivessem um papel importante
para o aparecimento do câncer, eles nada podiam fazer (!!!), pois não dispunham
de instrumentos físicos adequados para lidar com problemas emocionais.
Uma das
ironias da história da medicina é que quando a psicologia e a psiquiatria
começaram a desenvolver metodologia e instrumentos para testar a ligação entre
os estados emocionais e o câncer, muito tempo antes a medicina já havia perdido
o interesse nesse assunto.
O
resultado disso é que existem atualmente dois enfoques diferentes, tanto na
literatura como nas investigações a respeito do câncer:
- os
trabalhos de psicologia, descrevem a relação entre estados emocionais e o
câncer, mas nem sempre conseguem explicá-la através de mecanismos psicológicos;
- a
literatura médica é bem-fundamentada na fisiopatologia, mas, por desconhecer
e/ou não considerar as informações divulgadas nos trabalhos de psicologia, ela se mostra incapaz de explicar
várias ocorrências observadas na doença, tais como curas “espontâneas”, grandes discrepâncias na maneira como os
pacientes reagem ao tratamento e, até
mesmo, por que, mesmo expostos a agentes carcinógenos, muitos indivíduos não
desenvolviam a doença.
As
emoções e os sentimentos estão intimamente ligados à sensibilidade – um dos
atributos de que nosso espírito dispõe para sentir as correntes vibratórias do
meio ambiente. O próprio termo “emoção” (do latim, e + movere, mover-se,
afastar-se) já traz implícito em si mesmo uma ação imediata. A relação entre
emoção e reação imediata fica bem explicitada nas crianças. Mas é na criatura
adulta civilizada que mais freqüentemente se detecta uma anomalia: nela, as
emoções – impulsos instintivos para a ação –
estão divorciadas de sua reação óbvia. E, na grande maioria das vezes,
são essas respostas inadequadas às emoções, principalmente àquelas penosas e
desagradáveis, que desencadeiam o estresse.
Uma
rota importante que liga as emoções ao sistema imunológico é a influência que
os hormônios liberados durante o estresse têm sobre esse nosso sistema natural
de defesa. Durante o estresse, é estimulada a secreção de várias substâncias
endógenas, tais como, as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), o
cortisol, a prolactina e os opiáceos naturais (beta-endorfina e encefalina).
Cada uma dessas substâncias exerce um forte impacto sobre as células
imunológicas e, através de reações complexas, acabam obstruindo suas funções de
destruir células malignas. O estresse acaba com a resistência imunológica: se a
sua duração for curta, essa inibição é temporária mas, se ele for constante e
intenso, a inibição pode se tornar duradoura, ou seja, existe uma supressão do
sistema imune. Sem sua defesa natural, o organismo sucumbe facilmente a todo
tipo de agressões; até mesmo àquelas
idênticas às que eram repelidas com
sucesso quando o sistema imune se encontrava hígido e saudável.
Não é,
porém, a presença do estresse – considerado uma síndrome típica do mundo
civilizado da qual raramente se consegue escapar – mas sim a maneira como se
reage a ele que faz a diferença tanto para que o câncer se manifeste, como
também para a evolução positiva ou negativa da própria doença.
O pleno
funcionamento das defesas naturais do organismo é importante na prevenção do
câncer; porém, de maior importância ainda é saber manter o sistema imunológico
alerta e hígido quando a doença já se manifestou. Esse assunto foi tema de uma
comunicação doutrinária, da qual transcrevemos abaixo um trecho, dada em 2003
por Augusto Gomes da Silva, o fundador da Casa racionalista cristã de Campinas
(SP) e, até recentemente, o seu Presidente Astral.
Site - Filial Campinas |
“Nem
sempre o corpo físico se mantém saudável. Porém, se no comando desse corpo
físico estiver um espírito forte, esse corpo perde sua fragilidade porque sabe
lutar e vencer uma doença séria quando ela aparece. É muito importante saber
enfrentar um revés com muita serenidade, muita calma e muito bom humor, se
possível for. De nada adiantam lamúrias, de nada adianta o espírito de derrota.
Muito pelo contrário, [é necessário] procurar levar uma vida normal, procurar
se alimentar adequadamente e ter pensamentos elevados."
A
quimioterapia oferecida a pacientes com câncer, fonte de grande lucro para as
indústrias farmacêuticas, é agressivamente citotóxica e inespecífica, pois visa
somente destruir células com alto potencial de divisão como são as células
cancerosas. Algumas células normais encaixam-se, porém, nesse mesmo perfil; e o
exemplo mais visível que confirma isso é
o efeito dos quimioterápicos sobre as células epiteliais, produzindo a queda de cabelo que
classicamente ocorre quando os pacientes com câncer são submetidos a esse tipo
de tratamento drástico.
Embora
a queda dos cabelos seja o efeito colateral negativo mais visível induzido
pelos quimioterápicos, ele está longe de ser o mais grave. A grande tragédia
decorrente do uso dessas drogas devastadoras é a destruição dos linfócitos, que
é uma das células mais importantes do nosso sistema imunológico e, da mesma
forma que as células epiteliais, também possui um alto potencial de
multiplicação.
A
quimioterapia ideal deveria ter baixa toxicidade e ser combinada com o tratamento imunológico, tendo o
objetivo tanto de vacinar o indivíduo contra a volta do tumor, como também de
aumentar suas defesas basais.
Esse
novo enfoque na terapia do câncer poderá em breve se tornar realidade pois os
cientistas estão transformando numa estratégia para combater o câncer os
importantes conhecimentos adquiridos recentemente sobre o papel que as células
dendríticas desempenham na imunidade contra micróbios e toxinas. (Nota de Rodapé: Tema desenvolvido no
capítulo “A Gata Borralheira do sistema imunológico” deste livro)
A
questão agora é aperfeiçoar o método e testá-lo num número maior de pacientes.
As vacinas contra câncer baseadas em células dendríticas só foram testadas em
pacientes com a doença em estágio avançado. Mas, embora os pesquisadores
acreditem que os pacientes de câncer num estágio inicial possam responder
melhor à terapia – pois seus sistemas imunológicos ainda não tentaram erradicar
seus tumores – é preciso considerar, primeiro, vários problemas potenciais,
como por exemplo, que essas vacinas possam induzir os sistemas imunológicos dos
pacientes a atacar por engano tecidos sadios.
Esses,
no entanto, são projetos para o futuro – esperamos que bem próximo. Portanto,
saber administrar corretamente as emoções e procurar detectar precocemente a
patologia continuam sendo ainda as principais armas contra o câncer.
Bibliografia
Bibliografia
COURTNEY,
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Epidemiology 4 (5), September.
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GOLEMAN,
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MATTOS,
Luiz de. Pela verdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Centro Redentor, 1983. A medicina
moderna precisa ser completada: p. 92-94.
RACIONALISMO
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RABIN,
B.S. et al. Bidirectional interaction between the central nervous system and
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SAMEL,
Caruso. Reflexões sobre os sentimentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Centro Redentor,
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SILVA,
Glaci Ribeiro da. Racionalismo Cristão e ciência experimental. Cotia: Íbis,
2004. O cultivo do bom humor: p. 37-43.
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Por Dra. Glaci Ribeiro da Silva
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