A época
em que vivemos é apontada como a era científica, e a cultura ocidental se
orgulha muito disso. Ela é dominada pelo pensamento racional e nela, muito
freqüentemente, a única espécie de conhecimento considerado aceitável é o
científico. Esse tipo de atitude é conhecido como “cientificismo” e impregna
tanto nosso sistema educacional como as instituições sociais e políticas.
O
racional e o intuitivo são modos complementares de funcionamento da mente
humana. O pensamento racional é linear e analítico. Pertence ao domínio do
intelecto, cuja função é discriminar, medir e classificar. Ele tende, assim, a
ser fragmentado. Nada mudou mais o nosso mundo nos últimos quatrocentos anos do
que essa obsessão dos cientistas pela medição e pela quantificação. Já o
conhecimento intuitivo não é necessariamente intelectual, pois o ser humano é
capaz de adquiri-lo através da mediunidade intuitiva.
A
sabedoria intuitiva é típica das culturas tradicionais e não-letradas e seu
cultivo na nossa cultura foi sendo aos poucos negligenciado para dar lugar ao
pensamento racional. Essa separação manifesta-se atualmente numa flagrante
disparidade entre o desenvolvimento do poder intelectual, o conhecimento
científico e as qualificações tecnológicas, por um lado, e a sabedoria e a
espiritualidade, por outro.
O
pensamento racional em nossa cultura é chamado de cartesiano, pois é baseado
nas idéias do fundador da filosofia moderna, René Descartes.
René Descartes era um brilhante matemático e esse fato influenciou muito as suas ideias filosóficas. Ele acreditava que a linguagem da natureza – “esse grande livro que está permanentemente aberto ante nossos olhos” – era a matemática. Para entender a ciência natural (ou seja, da natureza), ele desenvolveu um novo método de raciocínio e descreveu-o em seu mais famoso livro, Discurso do método. Embora essa obra tenha-se tornado um dos grandes clássicos da filosofia, seu objetivo não era ensinar filosofia, mas, sim, ciência. Isso fica evidente no título completo desse livro: Discurso do método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências.
René Descartes era um brilhante matemático e esse fato influenciou muito as suas ideias filosóficas. Ele acreditava que a linguagem da natureza – “esse grande livro que está permanentemente aberto ante nossos olhos” – era a matemática. Para entender a ciência natural (ou seja, da natureza), ele desenvolveu um novo método de raciocínio e descreveu-o em seu mais famoso livro, Discurso do método. Embora essa obra tenha-se tornado um dos grandes clássicos da filosofia, seu objetivo não era ensinar filosofia, mas, sim, ciência. Isso fica evidente no título completo desse livro: Discurso do método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências.
O ponto
fundamental do método de Descartes é a dúvida. Ele duvida de tudo até chegar a
algo de que não pode duvidar, a existência de si mesmo como pensador. Ele
chegou assim à sua famosa frase em latim Cogito, ergo sum (ou seja, “Penso,
logo existo”). Portanto, Descartes chegou à conclusão de que pensar e ter a
consciência de pensar definem o ser humano e que no pensamento reside a
essência da natureza humana.
O
“cogito cartesiano”, como passou a ser chamado, fez com que Descartes
privilegiasse a mente (ou espírito) em relação ao corpo físico, levando-o ainda
à conclusão de que essas duas entidades eram separadas.
Descartes
baseou toda a sua concepção da natureza nessa divisão fundamental entre esses
dois domínios: o da mente (res pensante) e o da matéria (res cogitans), que ele
considerava ser somente uma máquina. Para Descartes mente e matéria eram
criações de Deus (ou Inteligência Universal), pois, para ele, a existência de
Deus era essencial à sua filosofia científica.
Descartes
é citado no livro Racionalismo Cristão e algumas das suas idéias fazem parte da
doutrina racionalista cristã. Essas idéias foram provavelmente introduzidas
nesse livro pelo Mestre Luiz de Mattos – o codificador do Racionalismo Cristão.
(Nota de rodapé: Ver p. 18 do livro RACIONALISMO CRISTÃO. 42. ed. Rio de
Janeiro: Centro Redentor, 2003.
No
entanto, nos séculos subsequentes, os cientistas omitiram qualquer referência
explícita à Inteligência Universal (ou Deus) e desenvolveram suas teorias de
acordo com a divisão cartesiana, as ciências humanas concentrando-se na mente e
as ciências naturais, no corpo físico.
Embora
tenham sido os cientistas os responsáveis por essa decisão errônea,
posteriormente foi Descartes que foi acusado de errar. E isso foi feito
formalmente em 1994 pelo neurologista português António R. Damásio em seu livro
O erro de Descartes. Décadas antes de esse livro ter sido publicado, tanto o
seu autor como vários outros cientistas haviam se dado conta finalmente da
grande influência que a mente exerce sobre o corpo físico.
Mas Descartes foi muito menos “cartesiano” do que a maioria dos médicos atuais, pois, embora defendesse a separação de corpo e mente, considerava a interação entre ambos um aspecto essencial da natureza humana. Ele também estava perfeitamente ciente das implicações que a interação corpo—mente tinha em medicina. Assim, quando alguém lhe pedia ajuda e lhe descrevia os sintomas físicos do seu mal, ele os analisava chegando muitas vezes à conclusão de que a principal origem daquele problema era a tensão emocional ou o estresse emocional, como atualmente se diz.
Mas Descartes foi muito menos “cartesiano” do que a maioria dos médicos atuais, pois, embora defendesse a separação de corpo e mente, considerava a interação entre ambos um aspecto essencial da natureza humana. Ele também estava perfeitamente ciente das implicações que a interação corpo—mente tinha em medicina. Assim, quando alguém lhe pedia ajuda e lhe descrevia os sintomas físicos do seu mal, ele os analisava chegando muitas vezes à conclusão de que a principal origem daquele problema era a tensão emocional ou o estresse emocional, como atualmente se diz.
Talvez
o mais acertado seria dizer que o assim chamado “erro de Descartes” decorreu do
fato de ele desconhecer a existência da vida fora da matéria, conceito esse que
vem sendo ensinado desde 1910 pela doutrina racionalista cristã.
Essas
concepções de Descartes tiveram uma influência decisiva no desenvolvimento das
ciências humanas, mas, também, limitaram muito o direcionamento das pesquisas
científicas. O problema é que os cientistas, encorajados por seu êxito em
tratar os organismos vivos como máquinas, passaram a acreditar que estes nada
mais são que máquinas. As conseqüências mais sérias desse modo de pensar foram
especialmente danosas na medicina, pois interferiram negativamente para que os
médicos aceitassem a natureza espiritual de muitas patologias.
Na área
médica o mau uso da filosofia cartesiana vem tendo uma longa duração e
causando, por isso, um grande prejuízo à saúde pública. Assim, três séculos
após Descartes, a medicina ainda se baseia nas noções do corpo, como uma
máquina, da doença, como uma avaria nessa máquina, e da função do médico como o
consertador dessa máquina.
Por
terem o racional e o intelectual predominado na chamada “era científica”, o
progresso da humanidade foi unilateral. E essa evolução unilateral está
atingindo agora um estágio alarmante tão paradoxal que beira à insanidade: a
ciência médica e a indústria farmacêutica estão pondo em perigo nossa saúde e o
departamento de defesa do país que atualmente está na liderança tornou-se a
maior ameaça à segurança mundial!
O mundo
Terra tem passado por vários ciclos de transformações ou mutações e, nestes
últimos tempos, nós estamos vivenciando uma dessas mutações. Há dois mil anos,
Jesus, que era dotado de grande clarividência, já previa que o mundo, antes de
findar o segundo milênio, iria passar por transformações fundamentais.
Nos
anos setenta esse fato foi focalizado por Luiz de Souza na sua excelente obra
racionalista Ao encontro de uma nova era. E, mais recentemente, esse mesmo
assunto foi também analisado no livro O ponto de mutação, do físico austríaco
Fritjof Capra.
Nas
décadas finais do século XX uma onda espiritualizadora começou a se espalhar
pelo mundo, ganhando rapidamente cada vez mais força, fazendo com que muitos
chamem a época em que vivemos atualmente de “era espiritualista”, por ela ter
nas idéias espiritualistas a sua principal característica.
Esse
sopro renovador alcançou também médicos e cientistas da área da saúde e das
ciências biológicas.
Assim,
embora o materialismo ainda seja predominante entre a maioria desses
profissionais, muitos deles já mostram certo amadurecimento espiritual que os
faz compreender melhor a verdadeira realidade. São estes os que foram atingidos
por essa nova aragem e marcados indelevelmente por ela.
Disso
resultou uma feliz e proveitosa parceria entre os cientistas que, até então,
haviam estudado somente o corpo material, e aqueles que vinham se dedicando ao
estudo da mente, como os psicólogos e os psiquiatras.
Essa
união tem frutificado e gerado grupos diferenciados de cientistas importantes e
já mundialmente respeitados. O objetivo desses grupos tem sido demonstrar que
as desordens espirituais são a causa principal tanto da grande maioria das
perturbações emocionais como, também, dos problemas físicos decorrentes delas.
Dentro
dessa nova mentalidade têm surgido vários ramos novos e muito promissores da
ciência, como, por exemplo, a medicina psicossomática, a psicobiologia, a
psiconeuroimunologia, etc.
O
objetivo da psiconeuroimunologia é estudar cientificamente a interação entre a
mente (psico), o sistema neuroendócrino (neuro) – que inclui o sistema nervoso
e o sistema hormonal – e o sistema imunológico (imunologia).
O
sistema imunológico é um dos sistemas mais complexos do nosso organismo e,
graças a esses estudos fundamentais que têm sido feitos recentemente, muito se
tem aprendido a respeito do seu funcionamento.
Novas
técnicas moleculares e farmacológicas possibilitaram a identificação de uma
intricada rede ligando o cérebro ao sistema imunológico – chamado por alguns de
“o cérebro do corpo”. Esse importante circuito permite um rápido e contínuo
envio de sinais entre os dois sistemas. Substâncias químicas produzidas pelas
células imunológicas enviam sinais para o cérebro que, por sua vez, envia
sinais químicos para controlar o sistema imune. São esses sinais que
continuamente são trocados entre o cérebro e o nosso sistema de defesa que
podem explicar como o estado emocional influencia a saúde. (Nota de rodapé:
Tema desenvolvido no capítulo “A Gata Borralheira da imunologia”, deste livro.)
Essa
sinalização biológica afeta também a resposta do organismo ao estresse, que,
quando crônico, é capaz de inibir totalmente o sistema imunológico, deixando,
assim, o organismo completamente desprotegido.
Só
muito recentemente o estresse foi reconhecido como a causa de um grande número
de doenças e distúrbios. Já o vínculo entre estados emocionais e doença, embora
conhecido desde a Grécia antiga, ainda recebe pouca atenção por parte da classe
médica.
Os
estudos feitos pelos psico-neuroimunologistas têm sido os principais
responsáveis por trazer novamente à
tona, e revalorizá-lo, o papel importante que a mente (o espírito) desempenha
nas doenças. Essa era uma convicção que existia desde os primórdios da medicina
e era aceita naturalmente por médicos e pacientes, mas que foi sendo
paulatinamente abandonada na era científica. A causa desse abandono foi tanto a
divisão cartesiana assumida e defendida rigorosamente pelos cientistas como,
também, o enorme poder financeiro exercido junto à classe médica pela indústria
farmacêutica com sua crescente produção de medicamentos – as “balas mágicas”
que os médicos deveriam usar para “consertar” a máquina humana...
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Para
que a ciência médica possa ir devidamente preparada ao encontro dessa nova era
que se inicia, é importante que seus cientistas tenham em sua bagagem um bom
acervo espiritual. Mas, sendo a evolução obrigatória e fazendo parte das leis
imutáveis e irrevogáveis que governam o Universo, não serão os representantes
da ciência médica – simples partículas em evolução nesse mundo físico – que
irão se opor ao império dessas leis. Portanto, podemos ter plena certeza de
que, com o passar do tempo, o materialismo que ainda impera nesse grupo será
substituído por uma bagagem espiritualista adequada.
Bibliografia
CAPRA,
Fritjof. O ponto de mutação. 24. ed. São Paulo: Cultrix, 2003.
DAMÁSIO,
António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 11. reimpr.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
DIXON,
Bernard. Além das balas mágicas. Trad.
de Margarida D. Black. São Paulo: T.A. Queiroz/ Edusp, 1981. O domínio da
matéria pela mente: p. 88-116.
RACIONALISMO
CRISTÃO. 42. ed. Rio de Janeiro: Centro Redentor, 2003.
SCIENCE
OF MIND-BODY: an exploration of integrative mechanisms.
http://videocast.nih.gov/PastEvents.asp?c+1&s+51
Disponível
em 11/12/2004.
SOUZA,
Luiz de. Ao encontro de uma nova era. 8. ed. Rio de Janeiro: Centro Redentor,
1995. Ao encontro de uma nova era: p. 15-20.
SPINELLI,
Miguel. Filosofia & ciência: análise histórico-crítica da filosofia de
Pitágoras a Descartes. São Paulo: EDICON, 1990. Descartes e a transformação do
conceito de filosofia: p. 267-335.
THE
BIOLOGICAL BASIS for mind and body interactions. Org. by Mayer and C. B. Saper.
Progress in Brain Research, vol. 122. Elsevier Science, 2000.